A Dor da Perda
"...Uma alegria eterna iluminará o seu rosto, um regozijo transbordante os inundará; as penas e aflições desaparecerão." - Isaías 51:11b
Ao longo da
minha vida tenho conhecido mulheres que perderam os seus filhos, nas mais
variadas situações e condições de vida. Mas em todas elas há um denominador
comum: saudade profunda, vazio que ninguém ou nenhum outro filho pode preencher.
Claro que a
nossa cultura e estrutura social podem dar diferentes aspectos à exteriorização
dessa dor, mas no fundo, ela nunca deixa de ser a maior, a mais agonizante na
vida de uma mulher que é mãe e que sofre a perda de um filho, seja ele criança,seja ele de mais idade.
É principalmente por ocasião da quadra do Natal, nos dias de reunião de família, que sentimos o calor do afecto
e da partilha. Mas mesmo sem o exprimirmos em palavras, há sempre um lugar que
não é preenchido à mesa nem no coração da mãe – o do filho que partiu.
Pensei por momentos no que teria sentido Maria de Nazaré, quando ficou junto da cruz de Jesus
Cristo, vendo o seu querido filho torturado, maltratado, ensanguentado e
morrendo inocente. Trinta e três anos antes, um profeta dissera a Maria: Uma espada trespassará a tua alma...
Agora, ela sabia e sentia o dilacerar da espada no seu coração. Os evangelhos
não relatam que ela tenha falado, desmaiado, gritado ou chorado. A sua figura
de dor junto à cruz, era também um sinal de Deus mostrando-nos que, embora
bem-aventurados, como ela era, ainda estamos expostos ao sofrimento e à
angústia.
Mas a maior de
todas as dores, deve tê-la sentido Deus Pai, quando viu o Seu amado Filho
morrer na cruz. A dor de Deus não tinha a ver apenas com o sofrimento infligido
a Cristo, mas com o horror da maldição do pecado colocada sobre o ser mais
maravilhoso do Universo.
Os evangelhos dizem que, quando Jesus expirou, o véu do Templo que separava o lugar santo do
lugar santíssimo, onde só entrava o sacerdote, foi rasgado de alto a baixo por
mão invisível. Naquele tempo, quando um pai perdia um filho, rasgava as vestes como sinal de dor e perda. O rasgar do véu foi o sinal de um Deus que
sente as dores dos homens, porque é um Deus de amor e bondade. Rasgou o véu,
rompeu o que O separava dos homens, no momento mais crucial da morte do Seu
Filho Jesus.
Este Deus que
entende a dor, tem na Sua mão a consolação que mais ninguém pode dar neste
mundo. Deus Pai compreende uma mãe que perde um filho, mesmo que ela, no
seu desespero, acuse Deus de fazê-lo.
Levantemos os nossos olhos da perda que sofremos e comecemos a sentir alegria pelos
momentos que vivemos com essa pessoa que tanto amámos. Há recordações que trazem
consolo, há palavras e gestos lembrados que são como um bálsamo para o coração.
Deus está nesse consolo, nesse bálsamo, se nos chegarmos a Ele. Ele
espera-nos.
Texto da autoria de Sarah Catarino retirado do programa de
rádio Mulheres de Esperança (Projecto Ana) produzido pela Rádio Transmundial de
Portugal.
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